1 de mai. de 2012

De olho na mentira das crianças

Filhos que faltam com a verdade costumam preocupar os pais, mas nem sempre a atitude deve ser considerada um problema.


Henry Milleo/ Gazeta do Povo / Anna Carolina, 10 anos, conta umas mentirinhas de vez em quando. A mãe Catiane Camargo Cardoso procura saber qual a melhor forma de agir com a situação
Anna Carolina, 10 anos, conta umas mentirinhas de vez em quando. A mãe Catiane Camargo Cardoso procura saber qual a melhor forma de agir com a situação
“Não vi, não fui eu e não sei”, são palavras que Anna Carolina, 10 anos, costuma ter sempre na ponta da língua. Na tentativa de escapar de uma bronca, a menina só admite alguma estripulia quando colocada contra a parede. “Depois de muita prensa ela acaba falando, mas temos de ficar em cima, pois ela sabe ser bem dissimulada, engana bem”, conta a mãe, Catiane Camargo Cardoso, 28 anos.

Ninguém nasce sabendo mentir. Esse é um comportamento aprendido, que vem a partir da convivência com outras pessoas, quando percebemos que o que falamos ou fazemos tem consequências. A criança mente por diversos motivos, mas as mentiras podem ser separadas entre aquelas que nascem da fantasia, entre os menores, e as que têm a intenção de enganar alguém.

Se a criança percebe que outra se impressionou com o fato inventado de que o pai comprou o videogame mais moderno, a tendência é que ela repita o comportamento de mentir em situações semelhantes, como explica a psicóloga Graziela Sapineza, mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria e professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

“Algumas crianças podem mentir para ter uma consequência positiva, como a de impressionar o outro, ou podem mentir para evitar algo desagradável, como quem mente que ainda não recebeu a nota da prova em que foi mal. Ela sabe que ficará de castigo ou levará bronca, então distorce o fato adiando ou evitando as consequências”, diz Graziela.

Anna Carolina já deixou a fase das fantasias e agora tenta usar as mentiras a seu favor. Apesar de ter recebido a orientação de que as mentiras da filha eram inofensivas, Catiane está mais preocupada agora que a filha está mais velha. “A pediatra disse que, enquanto Anna não estiver prejudicando ninguém, a mentira não é um problema e que ela não faz por maldade. Mas, mesmo lembrando que na infância mentia também, me pergunto sobre qual a forma mais correta de agir”, conta.

Compreensão

Mesmo na fase em que a realidade se mistura com a fantasia, até por volta dos sete anos, é preciso que a criança seja compreendida. “Não temos bola de cristal e nem sempre é fácil perceber o que leva uma criança a não dizer a verdade. Mas muitas vezes isso é possível se houver ação conjunta. Se a mentira envolve a escola, pais têm de sentar com professora, coordenadora, com quem puder ajudar”, afirma a doutora em Educação Maisa Pannuti, professora de Psicologia da Universidade Positivo (UP).

Além de se preocupar com a causa do comportamento da criança, expor a ela as consequências da mentira e mostrar a verdade são fundamentais para a sua formação. Na hora em que a falha é descoberta, o importante é ouvir a criança e não criticar ou puni-la até que se entenda qual a motivação dela. “Essas atitudes geram um clima favorável à confiança e segurança, o que aumenta as chances de que a criança diga a verdade”, diz Graziela.

Consequências são para a família toda

A mentira é um sinal de que a criança já percebe que pensa e sente coisas de que ninguém tem conhecimento. Mas, embora ela represente um amadurecimento cognitivo, pais precisam ficar atentos e ensinar o valor da honestidade. À medida que as mentiras vão aparecendo, também surgem as chances de se mostrar que faltar com a verdade tem consequências diversas.

Uma mentira pode acarretar na perda da confiança de alguém ou no prejuízo de uma pessoa inocente. Mas também há as mentiras “sociais”, aquelas de menor complexidade e que são usadas em situações em que a verdade magoaria. Aí entram um elogio a um corte de cabelo esquisito ou o agradecimento por um presente não-desejado. Estudos sugerem que os adultos contem ao menos sete dessas mentiras por dia. E as crianças estão na plateia.

A saída é usar o bom senso, dar o exemplo, ficar de olho nas escorregadas e assumir os erros. O mesmo vale para adultos e crianças de todas as idades. Se houve prejuízo, deve haver a reparação. Se o que foi dito magoou alguém, é preciso ir além das desculpas. “Só se desculpar não vale, pois não resolve. O pedido precisa ser verdadeiro e haver a mudança de comportamento”, lembra a doutora em Educação Maisa Pannuti.

Fonte: Gazeta do povo

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